sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SÃO MIGUEL É PRA LÁ DE GOSTOSO


 GIL SOTERO


As dunas fossilizadas da Praia de Tourinhos


São Miguel do Gostoso. Quem não quer conhecer um lugar com um nome assim? Foi o que fiz assim que terminei de ouvir os extasiantes casos de viagem de um amigo que acabara de retornar do litoral do Rio Grande do Norte.

Voei de Belo Horizonte a Natal, meu ponto de partida, que fica a apenas 100km ao sul de São Miguel. Como todo jardim secreto, chegar não foi tão fácil, mas de repente lá estava eu, sendo recebido pelos sorrisos contagiantes de cada morador de Gostoso.


Barcos dos pescadores na praia de São Miguel do Gostoso
Como todo bom mineiro, a primeira visão que procuro, quando chego numa cidade litorânea, é a do mar. Segui instintivamente o barulho das ondas e, antes mesmo de me acomodar numa pousada, senti meus pés na praia quase deserta, de areia fina, ondas calmas e um vento que parecia afagar minha cabeça. Foi amor à primeira vista. A tarde já ia caindo e percebi que a hora era dos amigos e vizinhos se encontrarem para uma conversa tranquila (gostosa...), daquelas que apenas existem - e resistem ao tempo - nas vilas e nas pequeninas cidades do mais profundo interior do Brasil.

Entrei na conversa e descobri o significado do nome, que é, na verdade, uma junção de duas histórias. A primeira conta que lá pelos idos dos anos 1800 havia um homem chamado Manoel, que recebia com toda a cordialidade quem aparecesse na cidade. Além de um anfitrião perfeito e ótimo contador de causos, Seu Manoel tinha uma risada gostosa e contagiante como marca registrada. O nome - Gostoso - pegou antes mesmo de se tornar oficial, e o local ficou conhecido como Gostoso. A segunda história narra a promessa feita por outro morador, Miguel Félix, para São Miguel Arcanjo. Se fosse curado de sua enfermidade, construiria ali mesmo uma capela e colocaria o santo no altar. Tendo sua saúde restabelecida, cumpriu logo a promessa e a população acabou adotando o santo como padroeiro. A partir daí foi só uma questão de tempo para que o nome fosse registrado e referendado: nascia São Miguel do Gostoso.

 Quem visita quer ficar

Ano após ano, a tranquilidade nativa conquista os forasteiros e alguns, completamente apaixonados, decidem ficar. A ocupação é recente e, há 20 anos, o vilarejo era habitado apenas por pescadores que conservam relíquias geológicas e históricas do lugar. Um dos turistas que se transformou em cidadão é o brasiliense Sebah Campos, 32 anos, que aponta o que pesou na decisão. “Comecei a vir para descansar da vida corrida. O que me cativou foi a educação das pessoas, e, ao mesmo tempo, a cidade limpa e organizada, perfeita para criar meus filhos.” O novíssimo morador descreve ainda o perfil dos turistas que chegam a São Miguel do Gostoso: “Em geral, são pessoas que buscam a paz e querem fugir das praias badaladas, por isso mesmo, muito movimentadas. Casais e famílias são a maioria, mas também há os velejadores e praticantes de kitesurf”.

Quem vai a Gostoso precisa conhecer a Praia do Marco, onde os portugueses, em 1501, fincaram o primeiro sinal de colonização nas terras brasileiras. Atualmente o marco está no Forte dos Reis Magos, na capital potiguar. Entretanto, uma caminhada pela área mostra claramente porque os lusitanos queriam tanto o território.

Localizadas na Praia de Tourinhos, as dunas fossilizadas, com mais de 2 mil anos, também merecem uma visita. O cenário é surreal e vale lotar sua câmera apenas com as fotos da impressionante paisagem. Tourinhos é ainda o lugar ideal para quem gosta de esportes aquáticos. Qualquer um pode nadar se preocupando apenas em observar uma constelação de estrelas do mar e corais de tamanhos e cores diversos.



Kitesurfemania
Kitesurfista pratica o esporte
A brisa de São Miguel é outra das gostosuras locais, que acabou por atrair a mais jovem das tribos – a dos praticantes de kitesurf – para o vilarejo. As condições para praticar o esporte são semelhantes às de Jericoacoara, no Ceará, considerada pelos especialistas como a Meca do kitesurf. É na Ponta de Santo Cristo que eles se encontram para voar e fazer acrobacias na água e no ar. Uma formação rochosa cria, durante a maré baixa, uma baía, o que facilita a prática e o aprendizado dos kitesurfistas, windsurfistas e velejadores em geral.

Não é por acaso que campeões de wind e kitesurf fixam residência no local. Alguns deles mantêm clubes e cursos para atletas e iniciantes.



Ambiente da Pousada Mar de Estrelas

Uma das boas pousadas locais é a Mar de Estrelas. Com uma área de 130 hectares, muitas árvores frutíferas, pavões, gansos, micos e cavalos, a sensação que o hóspede tem é a de que está numa fazenda litorânea. Os turistas misturam cavalgadas pelas praias desertas com banhos de mar, leituras relaxantes na biblioteca da pousada com ordenha de vacas e degustação de... leite! Só mesmo em São Miguel.



Culinária à la São Miguel

Deliciosa é também a culinária local. Nesse quesito, São Miguel é pra lá de dinâmica. Bistrôs, pizzarias e cozinha mediterrânea são apenas algumas das opções para quem gosta de sabores variados, embora a especialidade local seja mesmo os frutos do mar, sempre frescos. Restaurantes como o Talismã Sushi Bar abrem apenas durante a alta temporada, na Praça dos Anjos. Ninguém pode deixar o vilarejo sem experimentar o “peixe frito gostoso”, acompanhado de bolinhos de macaxeira, do restaurante Mar de Estrelas.

Já a Spaço Mix é uma pizzaria que serve, além da cozinha italiana, batatas recheadas, assadas e gratinadas no forno à lenha, e caipifruta de umbu, fruta típica do Nordeste. Depois do jantar é hora de cair no forró, ao ritmo das bandas regionais, que transformam a noite num verdadeiro pé de serra nordestino. Ao final, reserve um cantinho só seu no mirante, para, direto de São Miguel do Gostoso, ter uma visão especial das estrelas do universo.


Cavalgada no litoral do Rio Grande do Norte




Publicado em:
http://www.viagensgerais.com.br/interna.php?e=2&editoria=destino-brasil




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